Ricardo Ambrosi, o silêncio por trás dos rótulos que conquistam o mercado

Sócio e enólogo da Vinícola Foppa & Ambrosi, comanda os bastidores técnicos da marca, transformando ideias em identidade líquida, sustentando a qualidade por trás de cada garrafa – o alicerce do sucesso comercial

Enquanto os olhos do mercado se voltam para os rótulos ousados, os nomes criativos e a comunicação afiada da Vinícola Foppa & Ambrosi, há um universo que pulsa longe dos holofotes — dentro da cantina, entre tanques, barricas, temperaturas e decisões milimétricas. É ali que o enólogo Ricardo Ambrosi revela sua essência. Técnico, metódico e discreto, ele é o cérebro da elaboração dos vinhos e espumantes que transformaram a marca em um fenômeno nacional — e a única vinícola brasileira com operação também no Napa Valley, na Califórnia, além de uma collab no Uruguai.

A história de Ambrosi é marcada pela busca incansável por conhecimento e prática. Ainda durante a graduação em Viticultura e Enologia, conciliava o estágio matinal na Embrapa Uva e Vinho com os estudos à tarde e à noite. Nos finais de semana, trabalhava em vinícolas da Serra Gaúcha. “Era puxado demais, mas foi o que me fez ganhar cancha cedo”, relembra. O encontro com o sócio e amigo Lucas Foppa aconteceu ainda no curso técnico, em 2012. Desde então, os caminhos seguiram juntos: passaram por diversas vinícolas, cursaram a graduação no IFRS e, em 2017, criaram a primeira safra experimental da Foppa & Ambrosi. A partir dali, o que era experimento virou projeto de vida.

Desde 2018, Ambrosi também coordena a produção da Vinícola Plátanos, em Farroupilha, uma empresa que atua exclusivamente com produção personalizada de vinhos e espumantes. Sem marca própria, a vinícola atende dezenas de parceiros de todo o Brasil — projetos autorais, restaurantes com marca exclusiva, vinícolas emergentes e negócios de pequeno porte. “A gente aprende na marra. Em 2023, foram mais de 1 milhão de quilos de uva processados por sete pessoas. Foi ali que desenvolvi resiliência, senso de responsabilidade e uma visão técnica mais ampla sobre os diferentes perfis que o mercado exige”, explica Ricardo, que lidera toda a operação na Plátanos — da recepção das uvas à definição dos estilos e métodos de elaboração.

Foi também na Plátanos que a Foppa & Ambrosi encontrou estrutura para crescer. Desde o início, a vinícola contou com a parceria da direção, equipe e do maquinário da unidade para viabilizar sua produção. E Ricardo sempre esteve no centro dessa engrenagem, muitas vezes dormindo na vinícola durante a vindima.

Na Foppa & Ambrosi, também é dele a condução técnica de todos os vinhos e espumantes, em um portfólio cada vez mais autoral e plural. “Quando vamos lançar algo novo, eu trago minha visão como enólogo, meu gosto pessoal, mas discutimos tudo juntos. O Lucas representa muito bem o mercado e o consumidor. Ele é a cara da marca, e isso é essencial. Mas sem produto de qualidade, não há marketing que sustente”, diz Ambrosi, reforçando a simbiose que move a vinícola. “Enquanto ele está ouvindo o cliente, eu estou aqui cuidando dos detalhes. Um depende do outro”.

É assim que surgem sucessos como O Segredo do Enólogo, vinho recém-lançado que se tornou um fenômeno de vendas. “São sutilezas técnicas que muitas vezes não se vê, mas se sente na taça. E isso faz diferença”. Hoje, Ricardo divide sua rotina entre as duas vinícolas: é o enólogo responsável da Plátanos e, ao mesmo tempo, assina os vinhos da Foppa & Ambrosi — no Brasil, nos Estados Unidos e no Uruguai. Durante a safra, a jornada ultrapassa facilmente 14 horas por dia. “Ser enólogo é estar em constante aprendizado. O desafio é acompanhar as tendências sem perder identidade. Gosto de vinhos equilibrados e complexos, que respeitam o que a uva tem a dizer — e isso exige concentração e foco”.

A Foppa & Ambrosi é jovem, ousada e ágil — como seus fundadores. Mas por trás da estética moderna e da comunicação afiada, existe método, consistência e um profundo respeito pelo ofício. “A gente não tem fórmula pronta. O que temos é sangue no olho e muita vontade de fazer diferente”.

Fotos: Rodi Goulart